Quedas de idosos já são caso de saúde pública no Brasil
(Gazeta do Povo, em 09/01/2013)
Entre
uma série de doenças que passaram a acometer o brasileiro com mais
freqüências nas últimas três décadas, com o aumento da expectativa de
vida no país, um problema que ainda passa despercebido começa a chamar a
atenção dos médicos:
o número impressionante de idosos
que são vítimas de quedas, e também o grande número de óbitos
decorrentes dos problemas de saúde causados ou agravados pelos acidentes.
Em
2010, cerca de 363 mil brasileiros, de todas as idades, deram entrada
em hospitais para tratar de ferimentos decorrentes desses
acidentes. Em 12 anos (de 1998 a 2010), foram 4 milhões de internações.
Desse total, quase a metade envolveu pessoas com mais de 60 anos. Desde que o Sistema Único de Saúde passou a contabilizar os dados
sobre quedas, através do Data-SUS, em 1998, o número de internações tem aumentado em torno de 5% ao ano.
No Paraná, foram 29,4 mil internações em 2010, das quais 20% envolviam brasileiros na
terceira idade. Quando se
analisam as mortes por quedas, no entanto, o problema cresce: dos 797
acidentes fatais, 588, ou 74% dos casos, envolvem
idosos. De acordo com dados do Instituto Médico Legal de Curitiba
compilados pela Gazeta do Povo, em 2012 foram registradas 65 mortes de
idosos na capital e região metropolitana, uma média de cinco casos por
mês.
Causas
Entre
a população mais jovem, caso de crianças, as quedas se dão por
acidentes em casa, majoritariamente; dentre os adultos, por acidentes de
trabalho
ou na prática de esportes. Entre
os idosos, o crescimento se dá à medida que o brasileiro envelhece a
terceira idade já representa 12% da população e passa a ser acometido
por doenças como osteoporose (perda de massa óssea),
falta de equilíbrio, musculação fraca, articulações enrijecidas e baixa
visão. Com isso vêm as fraturas, muitas vezes fatais.
De
acordo com o ortopedista do Hospital Marcelino Champagnat Mark Deeke,
esse é um fenômeno observado em vários países desenvolvidos, onde
começam
a ser feitas campanhas maciças de prevenção para diminuir os custos
humanos e financeiros das quedas. É um caso de saúde pública, que exige
conscientização. Uma queda de um trabalhador de um telhado é algo grave,
claro, mas é diferente, pois ele pode se recuperar.
Com o idoso é diferente, pois o próprio envelhecimento consome a
capacidade de recuperação.
Entre
as conseqüências mais delicadas estão as fraturas de quadril, que,
embora respondam por 20% das fraturas, são responsáveis
por 99% das mortes. Após os 80 anos, 30% vão a óbito no primeiro ano, e
o restante, até cinco anos após a queda que gerou a fratura , explica o
ortopedista do Hospital Nossa Senhora das Graças em Curitiba Renato
Raad. As quedas nessa parte do corpo são, infelizmente,
tão comuns, que se costuma dizer, no meio médico, que viemos ao mundo
pelo colo do útero e iremos embora dele pelo colo do fêmur , afirma
Raad.
Não é a queda que mata
Diferentemente
do que se possa imaginar, não é a queda propriamente dita que causa o
óbito do idoso isso ocorre apenas em casos
mais graves, quando há traumatismo craniano ou grande hemorragia, como
na fratura da pelve. Os riscos são as doenças que surgem ou se agravam
quando uma pessoa sofre uma fratura e fica muito tempo acamada, sem se
movimentar. De acordo com o Ministério da Saúde,
as quedas são responsáveis por 70% das mortes acidentais de pessoas com
mais de 75 anos, e representam a sexta causa de óbito na terceira
idade.
O
ortopedista Renato Raad explica que, a partir dos 60 anos, o idoso
costuma apresentar doenças que surgem com o passar dos anos, como
diabete,
sobrepeso, pressão alta, arritimia cardíaca, problemas nos rins e
pulmões. Com a imobilização, essas doenças tendem a se agravar, já que o
corpo fica debilitado, a alimentação piora, os músculos não trabalham e
atrofiam.
Se
a pessoa fica com a perna imobilizada, o sangue não passa pela região e
é comum haver a formação de trombos que, se não tratados,
podem chegar ao pulmão e causar embolia pulmonar , diz Raad. Por isso, é
recomendado que, caso seja necessário, o idoso seja operado o mais
rápido possível quando sofre uma fratura.
O recomendado é que não demore mais de 48 horas.
Além de aliviar a dor
do paciente, que é grande, o objetivo é evitar complicações típicas de
um corpo imobilizado, como tromboses e pneumonias , afirma o ortopedista
Mark Deeke.
(Gazeta do Povo)
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